sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Renato Missé - Reportagem para revista Viagem e Turismo

Ah, o glamour dos cruzeiros...

Há quem diga que funcionário de navio de cruzeiros está longe de ser santo. Deve ser. No tempo em que eu trabalhei como fotógrafo de cruzeiros, não participei de nenhuma suruba, orgia ou coisa parecida. Mas fui convidado para fotografar um sexo grupal entre seis casais ingleses que foi um acontecimento! Não pude aceitar. Para trabalhar em um navio, existem regras muito claras. A tripulação não pode fazer sexo com passageiros, agredir ninguém, beber destilados (vinho e cerveja podem), consumir drogas ilícitas. Desde que o comandante não veja, vale tudo.

Posso dizer que, bom... Eu nunca briguei com ninguém! Uma vez, de smoking, saí correndo da cabine de uma passageira para não dar de cara com o diretor da hotelaria - junto com o comandante, ele é um dos chefões do navio; encontrá-lo seria o equivalente a ir para a prancha! Um colega meu, barman, ficou apenas seis semanas no trabalho. Conheceu uma passageira milionária e desembarcou direto para o casamento. Eu não me apaixonei por ninguém, ainda que tenha feito bastante sexo. A tripulação tinha 1 280 pessoas de 51 países. Gatinhas. E outras não tão gatinhas assim. No fim, tem gosto para tudo. E você não vai querer ficar cinco meses à míngua. Vai?

TUDO COMEÇOU COM UM ANÚNCIO

Vi no jornal que uma companhia de cruzeiros procurava por garçons, copeiros, arrumadeiras, animadores de festa, atendentes, vendedores, cozinheiros, barmen, cantores, músicos e... fotógrafos. Três coisas eram imprescindíveis que os candidatos às vagas, não importando qual fosse a função, falassem inglês fluente e tivessem menos de 35 anos. A seleção durou um dia inteiro. Tinha muita, muita gente. De tempos em tempos, saía um gringo (pelo sotaque, devia ser chileno) chamando os entrevistados por função. Quando chamaram os fotógrafos, apenas 15 se apresentaram. Sentei-me na frente do entrevistador, que deu uma olhadela rápida no meu portfólio e parou na foto de uma peça de Nelson Rodrigues. Perguntou "O que você está vendo aqui?" Descrevi a cena. Ele apontou uma fila e disse entra lá e preencha os formulários. Você está dentro.

Como eu, todos que foram escolhidos naquela tarde falavam inglês. Alguns, não tão fluentes. Mas todos, sem exceção, já tinham viajado muito. Ou morado fora do Brasil, o que era o meu caso. Trabalhei nove anos em uma agência de turismo e, claro, isso também deve ter feito toda a diferença. Fomos a uma sala fechada e um dos entrevistadores ligou para o poderoso chefão, nos Estados Unidos, para saber quem seria enviado primeiro ao exterior. Éramos eu e um outro fotógrafo de São Paulo. Em quatro semanas, entreguei o apartamento em que morava na Barra Funda. Vendi tudo o que podia. E embarquei para Miami.

A passagem ficou por nossa conta. Passaríamos uma semana na matriz da empresa de fotografia que prestava serviço aos navios da companhia. Na sala de treinamento estavam outras 16 pessoas chilenos, noruegueses, ingleses e outras nacionalidades que eu não me lembro. Uma das primeiras coisas que fizemos ao desembarcar foi assinar o contrato. Duas coisas me deixaram desconfiado. Éramos obrigados a adquirir um segundo corpo de máquina fotográfica. E também comprar, com nosso dinheiro, todo o uniforme que iríamos usar no navio. A empresa faria a compra, por volta de 620 dólares, e nós pagaríamos conforme fôssemos produzindo. Ou seja, já embarcaríamos devendo para o patrão. Outra coisa não tínhamos salário fixo. Ganhávamos uma porcentagem (de 0,08% a 0,16% se não me engano) em cima de cada fotografia vendida. Ela variava de acordo com a posição na hierarquia do time de fotógrafos. No meu navio, eram cinco fotógrafos. Eu era o número 4.

EM VENEZA, FAÇA COMO OS ROMANOS

Com o fim do treinamento, a empresa fez a distribuição dos recém-contratados nos navios da companhia espalhados pelo mundo. Fui enviado a um barco de 2 mil passageiros que fazia cruzeiros pelo Mediterrâneo. Não sei o porquê, mas não durmo em avião nem tomando um sossega leão! Voei durante 13 horas até Veneza. A saída do navio do porto dessa cidade é muito linda. E eu, mesmo cansado, ainda achava tudo uma maravilha.

Eram 2 da tarde quando me registrei no navio. Escoltado pelo gerente da equipe de fotografia, conheci os dois restaurantes com paredes de vidro, as piscinas, o spa impecável. Tudo o que eu não poderia usufruir. A área de lazer do navio é exclusiva aos passageiros. Raramente, com autorização e nas poucas horas em que os passageiros estavam em terra, eu poderia, por exemplo, tomar uma sauna. Fui conduzido, então, à cabine em que iria morar nos seis meses seguintes (o tempo do contrato). Ela tinha 10 metros quadrados e nenhuma janela. Cabia um armário, uma minigeladeira, um banheiro, uma TV com videocassete e duas camas que se recolhiam na parede. O meu primeiro colega de cabine, o Marcelo, era home sick tinha saudade de casa e foi embora no quinto dia, depois de chorar por quatro! O segundo era um carioca folgado. Foi mandado embora depois de dois meses.

Arrumei as coisas e me deitei para descansar. Não deram dois minutos, abriram a porta. Eram dois fotógrafos da equipe. Um chileno, que trazia nas mãos um copo imenso de soda limonada com vodca e gelo. E uma sul-africana, que sorria ao carregar uma fantasia patética de romano. "Toma uns goles aí e veste isto", disse ele. "Hoje a gente fotografa você com esta fantasia." Tomei três copos. Fui pra "guerra".

SEXO, DROGAS E MARESIA

Além de romano, tive de me vestir de pirata para fazer graça e ser fotografado ao lado de milhares de passageiros. Quem pensa que é mole volta correndo para casa. Eu trabalhei como nunca na vida! Nesses contratos temporários, você rala sete dias por semana. Passava, em média, 14 horas correndo pra lá e pra cá. Em uma única noite do comandante (o tradicional jantar de gala dos cruzeiros), clicávamos até 48 filmes. As folgas só rolam quando o navio está ancorado. Essa era a parte boa - conheci Veneza, Málaga, Barcelona, Ilha de Tenerife, Lisboa e, no Brasil, Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro, Búzios e Angra do Reis. Tudo rapidinho.

Durante o dia, em alto-mar, a gente descansava. À noite, trabalhava. O estimulante era vodca com energético, que já fazia parte da nossa lista de ilegalidades. Na mão dos passageiros, eu vi todas as outras drogas. É impressionante como, na Europa, sempre aparece alguém que acabou de voltar do Marrocos com haxixe. Como os horários são malucos, as festas aconteciam a qualquer hora do dia ou da madrugada. Meus vizinhos de cabine eram do setor do entretenimento bailarinas, cantores, massagistas. Gente animada, que promovia as melhores happy hours. Festa de cabine faz parte das lendas da vida no mar. A galera se junta para beber, conversar e fumar escondido (eu fumo um maço por dia, e, para fazer isso dentro da cabine, tinha de desligar o alarme de fumaça). Nossas festinhas sempre se estendiam pelo corredor a participação era tão grande, e as cabines, tão pequenas, que nunca cabia todo mundo!

Eu, que era o fotógrafo número 4, recebia de 380 a 410 dólares por semana. Não saí com o bolso cheio, mas não me arrependo. Valeu pela experiência e por alguns momentos que mudaram o rumo da minha história. O maior deles foi o encontro com Oscar Niemeyer. Saíamos do Porto de Santos, e eu fui ao convés ver o pôr do sol. O veterano arquiteto estava lá, na espreguiçadeira, com uma mantinha nas pernas. Lia um livro. Eu o reconheci e ele se interessou pela minha vida de embarcado. Puxou papo e, em troca, me deu uma lição de vida. Disse que só tinha começado a ser arquiteto aos 43 anos e que eu era jovem, que tinha de aproveitar a vida por mim e por ele. Uma hora depois, mudou de assunto ligeiro. "Que beleza essas mulheres, hein?", disse o velhinho.

* O fotógrafo Renato Missé não trabalha mais em navio (nem vai...). Hoje, ele participa do coletivo de fotógrafo Role (role.art.br), que captura cenas do "lado B" de São Paulo. E especializou-se em fotografia de arquitetura.

Em conversa com o professor Renato Missé, o mesmo me enviou o convite do coletivo Role, para fotos na noite de comemoração do aniversário de São Paulo. Para os que residem na capital, um convite e tanto, principalmente por participar e aprender, com grandes fotógrafos do cenário paulista e nacional.


*Obrigado Professor Renato Missé, por permitir a inclusão da reportagem no blog, e pelo convite do coletivo Role.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cenários da memória e Cenas vertiginosas de Roberto Schmitt-Prym

Cenários da memória e Cenas vertiginosas são dois ensaios assinados pelo fotógrafo gaúcho Roberto Schmitt-Prym. Trata-se de duas séries provocadoras em função da linguagem proposta pelo autor, que escapa dos padrões estáticos da fotografia para oferecer imagens cheias de movimento.

"A série Cenários da memória é realizada a partir de fotografias, analógicas ou digitais, mais antigas e algumas recentes, que são sobrepostas e deslocadas. Cada imagem final é composta de 40 a 50 colagens com detalhes transparentes", explica Schmitt-Prym.


Com relação a Cenas vertiginosas, o fotógrafo a realizou a partir de pequenos vídeos, que foram fotografados em baixa velocidade de obturação durante a execução. " A cena é composta de maneira difusa por se tratarem de acontecimentos passados e, portanto, também vagos", provoca o fotógrafo.


Apesar dos seus 53 anos de idade, Schmitt-Prym não é saudosista. Para ele, o que importa é o resultado: "Hoje as possibilidades são infinitas. Muitos dos fiéis seguidores da fotografia PB em filmes de 35mm se veem obrigados a digitalizar os negativos para possibilitar ampliações de grandes tamanhos. Há fotógrafos que utilizam scanners para produção de suas obras e outros continuarão a utilizar filmes negativos enquanto esses estiverem à venda. Mas não vejo uma especial valorização desse tipo de trabalho. O que importa é sempre o resultado final, independente de sua forma de produção".

Assim fica publicado no FOTOGRAMA, o trabalho de um grande artista, abrindo assim, uma série de outras postagens sobre o assunto.


Texto da revista, Photo Magazine

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


A Sony do Brasil e Fotografe Melhor se uniram em busca de um objetivo: revelar novos talentos na fotografia brasileira. Por isso, criaram o primeiro grande concurso, de abrangência nacional, que tem como foco o público universitário.
Há diversos cursos em que a fotografia faz parte das disciplinas que formam o currículo, como o Jornalismo, Publicidade, Arquitetura, Design, Artes, Desenho Industrial, entre outros - sem contar faculdades específicas no ensino de Fotografia. Mas você pode participar mesmo sendo estudante de Direito, Medicina ou qualquer outro curso. Basta gostar de fotografia. O concurso é aberto a todos os universitários. Leia o regulamento atentamente e inscreva-se.

Para mais informações, acesse: www.fotografemelhor.com.br/concursouniversitario

O tema geral do Concurso Universitário é: "Meu Olhar sobre o Brasil"